O futebol de base brasileiro vive um paradoxo: é o maior celeiro de talentos do mundo, mas ainda carrega estruturas frágeis, gestões improvisadas e uma visão limitada sobre o papel social das escolas de futebol. Estive recentemente no FutEdu Summit, em Curitiba, onde tive a honra de participar de uma banca dedicada aos Desafios e Perspectivas do Mercado de Escolas de Futebol. O que ouvi, observei e questionei ali me provocou profundamente — e esse artigo nasce da necessidade de ampliar essa conversa.
Modernizar a gestão não é opção. É sobrevivência. Muitas escolas ainda operam sob a lógica do improviso. Faltam processos, indicadores, governança. Cada projeto tem seu modelo, claro — e deve ter —, mas a profissionalização da gestão é um caminho sem volta. Só assim é possível garantir longevidade, credibilidade e impacto real na vida dos alunos e de suas famílias.
Formar ou entreter? Eis o dilema. A escola de futebol virou um espaço multifuncional. É lazer, é serviço, é formação. Mas a pressa por entregar resultados esportivos (ou satisfazer expectativas irreais de pais e responsáveis) tem colocado a formação integral em segundo plano. O campo precisa voltar a ser também sala de aula — de valores, de cidadania, de humanidade.
As famílias mudaram. E exigem mais. Hoje, os pais querem retorno. Querem relatório, querem resultado, querem performance. Isso exige das escolas não apenas mais comunicação, mas mais consistência. Transparência, escuta ativa e entrega real de valor formativo.
Tecnologia é aliada — desde que a serviço do processo e não do ego. O uso estratégico de ferramentas digitais pode ser revolucionário: dados de desempenho, planos de treino individualizados, acompanhamento de frequência. Mas é preciso cuidado. O excesso de métricas pode gerar ansiedade, enviesar diagnósticos e desumanizar a experiência do esporte.
E no fim, o consenso é um só: formar pessoas. O futebol não pode continuar alimentando o sonho de 1% e descartando os 99%. O grande legado das escolas não está em revelar craques, mas em transformar histórias. A bola pode até abrir portas — mas é o projeto pedagógico por trás dela que determina quem atravessa.
Precisamos falar mais sobre isso. E agir mais também.
Vamos seguir essa conversa? Deixe sua opinião. Compartilhe sua experiência. Ou apenas me diga: na sua visão, o que ainda precisa mudar nas escolinhas de futebol do Brasil?