Com o coração em quadra – LNF

Aos 14 anos, Jamily Durante vive uma paixão que faz o coração bater mais forte, no peito e na alma: o futsal. Natural de Lajeado Grande (SC), uma cidade com cerca de 1500 habitantes, ela enfrentou desde cedo grandes desafios devido a uma cardiopatia congênita: a menina nasceu com Tetralogoia de Fallot e submeteu-se a várias cirurgias desde os primeiros meses de vida. Depois de viver longos períodos em hospitais, hoje, após um transplante, ela aproveita para frequentar as quadras marcando os gols que não pôde na infância, quando precisou se reinventar.

A mãe, Neide Durante, conta que a filha, apaixonada por futebol e futsal, não podia fazer esforço, correr ou brincar, e ficava apenas assistindo aos jogos. Mas enquanto não podia entrar em quadra, Neide sempre estimulou que a filha encontrasse em outras áreas motivação para se manter forte na espera por um transplante.

“É uma história capaz de transformar vidas e a gente conta com muito carinho a da Jamily. Ela sempre sonhou em praticar esportes, e a gente teve que se reinventar com a doença”, conta.

Como passou boa parte da vida em leitos de hospitais, ler era o que Jamily mais gostava de fazer. E com apenas 8 anos se tornou escritora. Seu primeiro livro, “O Coração de Jamily”, foi inspirado em sua própria experiência. Aos 12 anos, lançou seu segundo livro infantil, “Meu Coração à Sombra de Pé de Jabuticaba”, com lições como fé e determinação, conscientizando sobre cardiopatia congênita.

Há três anos a vida de Jamily mudou para sempre. Ela fez a troca da válvula pulmonar, que antes era uma prótese, por uma biológica (humana). Jamily relembra quando recebeu a notícia de que havia aparecido um doador compatível.

“Eu estava no hospital, já fazia dois meses esperando, e o médico disse que, se eu não conseguisse o órgão, ia ter que colocar uma válvula artificial, porque não tinha no banco de órgãos. Aí eu disse para minha mãe: ‘Reza para que apareça’. Minha mãe já estava quase desistindo. E eu disse: ‘Mãe, tenha fé, acredita’. E, na mesma madrugada, apareceu o órgão de um menino, do tamanho perfeito para mim, tudo era compatível”, lembra emocionada. “Hoje, graças a Deus eu posso jogar futebol, como era o meu sonho desde sempre”, completa.

Na última terça-feira (20), Jamily realizou o primeiro sonho: sentou-se na arquibancada da Arena Ivo Sguisardi em Xanxerê (SC) para acompanhar o treino da Seleção Brasileira de Futsal Feminina, que se preparava para estrear no III Torneio Internacional. Com Jamily estavam outras 25 crianças do Projeto “Futebol Feminino Lajeado Grande”, único time feminino de futsal da cidade de cerca de 1500 habitantes.

Vestindo a camisa da seleção e segurando a bandeira do Brasil, ela observava cada jogada com atenção e encantamento. “Me emocionei desde que cheguei e sentei para assistir elas jogarem. Estou muito feliz”, celebra.

Ao final do treino, Jamily foi convidada para conhecer as jogadoras e tirou fotos com a equipe. A menina que enfrentou cirurgias e internações passou a praticar esportes, agora verá mais um sonho se tornar realidade: dia 21 vai entrar em quadra para seu primeiro jogo de futsal. O momento com a Seleção foi inspirador e ficará marcado não só na memória dela, mas no coração.

“Foi muito legal conhecer as meninas, elas são uns amores. Eu sou muito apaixonada por elas e me inspiro muito nelas. Elas são maravilhosas, perfeitas e merecem tudo o que têm. Estou muito ansiosa e agradecendo a Deus por finalmente poder realizar meu sonho”.