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A trajetória de coragem de Ana Luiza, que saiu de Belém e conseguiu chegar numa Copa do Mundo histórica nas Filipinas – LNF

Ana Luiza marcou o primeiro gol do Brasil em uma Copa do Mundo FIFA | Foto: Fabio Souza

Desde criança Ana Luiza sabia que seu futuro estava na bola. Mas como não havia uma de cristal para traçar seu caminho até o sucesso, ela precisou experimentar: brincou com as de handebol, as de futebol de campo, as de borracha nas ruas de Belém do Pará, até que se encontrou nas quadras, com a bola de couro do futsal, que a levou a cruzar o país para fazer o trajeto que a levaria para a Seleção Brasileira de Futsal.

Muito antes de ser pivô da Amarelinha, o esporte já estava no DNA de Ana Luiza: a mãe jogou handebol, o pai jogou futebol profissional e o avô foi técnico. “Meu primeiro brinquedo foi a bola, então a gente fala que se eu não fosse para o futsal em algum esporte eu iria estar”, diz a jogadora.

A intimidade com a bola rapidamente desabrochou: o talento primeiro a fez ganhar uma bolsa escolar. Os jogos estudantis foram como uma grande vitrine e a exposição a fez cruzar o país: do Norte foi para o Sul, mais precisamente Santa Catarina, onde foi “botar a cara”, bater na porta da vida, receber e pagar.

Fabio Souza
Ana Luiza marcou dois gols em dois jogos na Copa do Mundo | Foto: Fabio Souza

No Sul do país, teve uma breve passagem pelo futebol de campo, na Chapecoense. Mas o período de sol, caneladas e travas lhe rendeu a certeza que seu lugar era nas quadras, ainda mais pelas perspectivas de convocação para a Seleção Brasileira de Futsal no Sub-20 e profissional. Ambas se concretizaram em 2019. E uma vez com a Amarelinha, de lá não saiu mais.

Nesta entrevista, a pivô fala sobre a carreira, o período obscuro após a dura lesão de LCA, a volta por cima e a expectativa por fazer história na primeira Copa do Mundo Feminina da modalidade vestindo a camisa da Seleção, lugar que resume em duas palavras: amor e felicidade.

Como foi a sua trajetória no futsal? Se você olha para trás, para aquela menina que brincava com a bola em Belém, em que momento você pode dizer que ali começava o destino que te trouxe até aqui?

Eu e minha família sempre falamos que o esporte já tá no nosso sangue. Minha mãe é ex-jogadora de handebol, meu pai foi jogador profissional, meu avô técnico… então se eu não fosse pro futsal, seria pra algum esporte. Comecei desde pequena, sempre influenciada a jogar. Minha mãe diz que meu primeiro brinquedo foi uma bola. Aí ela já me colocou em escolinhas. Jogava na rua com os meninos, com meu primo. Sou de Belém do Pará. Eu fazia de tudo: vôlei, futsal… qualquer esporte. Da escolinha recebi uma bolsa escolar, minha família não tinha condições de pagar escola particular, e, jogando Jogos Escolares, comecei a ser vista. Foi quando recebi uma proposta para sair de Belém. Recebi uma proposta para ir para Santa Catarina, mas não era algo certo. O amigo que me chamou falou: “Vem, faz um teste e, se não der certo, você volta”. Aí minha mãe também, né, sonhadora, porque o sonho não é meu… graças a Deus eu tive todo o apoio do mundo. Ela falou assim: “Vai. Vamos lá botar a cara”.

Arquivo Pessoal
Ana Luiza começou no futsal na escola em Belém, no Pará | Foto: Arquivo Pessoal

Foi toda família para o Sul?

Não, fui só eu e mais duas amigas: a Duda e a Vanessa, que jogavam comigo na escola. Eu tinha 14 anos.

E sua mãe ficou tranquila?

Tranquila não, né? (risos) Mas ela tinha aquele sexto sentido. Ela acreditava muito que algo ia sair dali. No começo foi difícil, mas estar com amigas ajudou muito. Ali eu percebi que queria ser jogadora profissional. Depois fui sendo mais vista, ganhando títulos, virei artilheira. Passei por Balneário Camboriú, Femali… e aí joguei campo.

Arquivo Pessoal
Ana Luiza com a mãe, D. Beth, e o primo Caio, no Torneio Intenracional de Futsal Feminino, em Xanxerê (SC) | Foto: Arquivo Pessoal

Fale um pouco mais da sua família, da sua mãe, D. Beth. Como foi esse suporte familiar para que você seguisse a sua trajetória no futebol?

Sou suspeita pra falar da minha mãe. Em Florianópolis ela estava lá. Em convocação, ela está. Ela fala com todo mundo, abraça todo mundo. Ela tem muito orgulho. Mostra meus gols para qualquer um. Meu primo é especial, tenho um amor enorme por ele. Eles são meus pilares. Tenho planos de levá-los comigo pra Espanha. Saí de casa muito nova, perdi muita coisa com eles. Tenho 25 anos. Quero recuperar esse tempo.

Como foi essa passagem pelo futebol de campo? Como você entendeu que seu lugar era, de fato, nas quadras?

Recebi uma proposta de um amigo meu. Eu sempre alternava entre campo e futsal. Joguei na Chapecoense. No começo, foi assustador: sol, canelada, trava… eu pensava “isso aqui não é pra mim”. Eu tinha convocações sub-20 e principal no futsal. Fiquei uns 7, 8 meses no campo e percebi: meu coração é o futsal. Aí fui para Femali, e lá fui muito feliz também. Aí depois da Femali fui para Taboão. Aí de Taboão eu fui para a Espanha, que é onde eu estou hoje.

Arquivo Pessoal
Ana Luiza teve uma brave passagem pelo futebol de campo e atuou na Chapecoense | Foto: Arquivo Pessoal

A decisão de mudar para Espanha mostra que você escolheu lutar por sua carreira e sua história. Como foi a transição para fora do país? Foi desafiadora ou você conseguiu se adaptar fácil?

Não foi fácil. Demorei uns dois anos para me adaptar. Ter muitas brasileiras no time ajuda, mas é clima, comida, rotina, fuso de cinco horas… tudo pesa. E no meio disso eu tive lesão de LCA. Fiz toda a recuperação lá, sem minha família. A Sinara (fisioterapeuta da Seleção) e a Paka (preparadora física da Seleção) foram fundamentais. Foi pesado, mas hoje estou bem.

Como é que foi a sua primeira convocação, o seu primeiro campeonato, a sua trajetória dentro da Seleção?

Comecei na Sub-20 e, no mesmo ano, 2019, fui pra principal. Foi surreal. Estava com meninas que eu admirava. Como a mais nova, tento aprender tudo. Fui muito bem recebida.

E como é que foi a convocação para a Copa do Mundo? Você lembra como foi esse momento?

Pedi pra minha mãe e amigos fazerem vídeos da reação. Acordei cedo, com muita energia. Tínhamos jogo no mesmo dia. Na hora da convocação, estávamos no vestiário. Todo mundo do clube junto. Foi muita felicidade, mas eu precisava focar no jogo. Depois, sozinha em casa, aí veio a emoção. Meu primo me mandou áudio chorando… ali caiu a ficha: “Consegui”.

Fabio Souza
Ana Luiza realiza o sonho de representar o Brasil na primeira Copa do Mundo de Futsal na história da modalidade | Foto: Fabio Souza

Quais foram os maiores desafios que você teve na carreira? A lesão foi a principal? Teve medo de não reencontrar sua melhor versão?

A lesão, sem dúvida. Teve um dia que eu subi na arquibancada para torcer e comecei a chorar muito. Doía não estar jogando. Ali eu percebi que precisava valorizar mais o que eu faço. Demorei pra aceitar. Passei meses sem assistir aos jogos. Foi a fase mais difícil da minha vida. Isso foi em 2022.

Dois anos depois você foi convocada. Como foi o retorno pensando no Mundial?

Fui passo a passo. Não pensei “vou voltar pro Mundial”. A Sinara foi essencial pra eu não atropelar nada. Recuperar confiança depois de dez meses parada é difícil. Quando me senti bem, coloquei objetivos. Mas sem pressão exagerada.

Vocês inauguram uma Copa do Mundo na modalidade, a primeira da história. Você já pensou no tamanho da responsabilidade?

Já. E é tão grande que eu tento nem pensar muito (risos). Mas é uma responsabilidade boa. Quero estar na história, quero meu nome ali. Eu imagino tudo: gol em final, levantando a taça. Penso todos os dias.

Fabio Souza
Seleção Brasileira (esq. para dir.) em pé: Júlia, Débora Vanin, Simone, Camila, Emilly, Luana, Bianca; Agachadas: Ana Luiza, Natalinha, Luciléia, Taty, Amandinha, Diana e Tampa | Foto: Fabio Souza

Que Seleção é essa que está na Copa do Mundo? Quem é o Brasil?

Um grupo muito unido. Eu me sinto em casa. É um Brasil competitivo, com vontade de vencer. Se precisar dar bicuda, a gente dá. Se precisar botar a bunda no chão, bota. Vamos fazer de tudo pra trazer a estrela para a camisa.

Para encerrar: se você tivesse que escolher duas palavras que definem a Seleção?

Amor e felicidade. Porque eu amo estar aqui e sou muito feliz aqui. É o sentimento que mais vem quando eu visto a camisa.

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