Bianca fala sobre fé, família e o caminho até a Copa do Mundo – LNF

A história de Bianca é movida por duas forças que atravessam cada escolha da sua vida: fé e vontade de vencer. Desde o dia em que decidiu, ainda criança, que queria “jogar de verdade”, ela nunca mais deixou de acreditar que o gol era o seu lugar. A fé guiou passos que pareciam improváveis da profecia de um pastor que antecipou sua ida para a Europa ao momento em que abriu mão de certezas para buscar algo maior. A vontade de vencer a levou a cruzar fronteiras, enfrentar dúvidas, deixar a família e voltar quando o coração pediu.

Hoje, quando veste a camisa da Seleção Brasileira na primeira Copa do Mundo da modalidade, Bianca carrega tudo isso: a convicção de que nada aconteceu por acaso e a mentalidade competitiva de quem não se contenta apenas em chegar. Ela sonhou com esse momento e agora quer mais. Quer honrar a caminhada e conquistar o título mundial histórico para o Brasil.

Bianca foi eleita duas vezes a melhor goleira do mundo e é uma das 14 atletas que representam o Brasil na Copa do Mundo nas Filipinas. | Foto: Fabio Souza

Bianca, conta um pouco do início da sua trajetória até se tornar goleira de futsal. Foi vocação, escolha ou destino?

Eu sou nascida em Osasco, São Paulo, mas fui muito cedo pro Paraná, eu tinha praticamente um aninho de idade. Então, pouca coisa de São Paulo, né? Sou muito mais paranaense, mas carrego raízes paulistas. Quando eu fui pro Paraná, na escola comecei a jogar futsal através da educação física, com os meninos, e o interessante é que eu fui direto pro gol. Eu não fui aquela atleta que iniciou na linha e depois foi pro gol. Não. Eu já iniciei no gol, pra mim já foi uma paixão à primeira vista. Então não foi aquela história de que ninguém quer ir pro gol. Eu fui e gostei. Logo quando eu cheguei em casa, falei pra minha mãe e pra minha irmã: ‘Eu quero jogar’. Minha mãe falou: ‘Pega uma bola e vai lá fora jogar’. Eu disse: ‘Não mãe, eu quero jogar de verdade, eu quero treinar’. Ela não entendeu muito, porque eu tinha uns nove pra dez anos e ela achou que era coisa de criança. Minha irmã percebeu que eu queria algo a mais. Foi atrás de escolinhas. Eu moro em Cambé, mas é muito colado com Londrina, então muitas vezes eu falo que sou mais de Londrina, mas tenho orgulho de ser cambéense. E foi em Londrina que comecei minha caminhada para a profissão.

No início do seu sonho, quem da sua família acreditou no que você ainda estava descobrindo…ser jogadora de futsal?

No início minha achou que era brincadeira. Minha irmã, não. Ela falou: ‘Tá bom, vou atrás de alguma coisa’. Como ela trabalhava no meio rural, tinha aqueles clubes da época. Ela viu se tinha e realmente tinha. Ela buscou um pouco mais. Minha família inteira abraçou. Meu irmão, então… ele é um crítico árduo meu. Todo jogo ele manda mensagem, faz leitura do jogo. Minha outra irmã também. O pessoal da minha família inteira abraçou de um jeito que me deixa muito feliz.

E ao longo da sua trajetória, o quanto sua família foi importante nesse suporte para que você permanecesse no esporte até chegar à Seleção Brasileira?

Minha família sempre me apoiou: me levar pros treinos, estar comigo em qualquer jogo. Depois, quando joguei em outros lugares do Paraná, sempre que dava eles iam principalmente em finais. Sempre tive esse apoio de ver minha família assistindo, seja na TV ou no ginásio. Acho que dei um pouco de alegria pra eles com a minha caminhada. No início, com certeza pensaram que seria uma fase, porque é normal no esporte feminino. Mas conforme foram vendo minha evolução e a profissionalização dos clubes, minha família abraçou totalmente. E o principal, para minha mãe, foi minha faculdade. Eu me formei através do futsal. Isso pra ela… até me emociona. Ela viu que o esporte também é educação. Que te leva a algo maior. Também pude levar minha mãe pra assistir um jogo meu na Itália. O esporte trouxe muita coisa pra mim e pra minha família. Sou muito grata.

Como foi o suporte emocional da sua família nos momentos decisivos da carreira?

Sempre converso muito com minha mãe. Mãe sempre tem uma palavra na hora certa. Ela sempre foi essa amiga pra mim. Ela dizia: ‘Bianca, calma’, ou ‘Bianca, vai’, ou ‘Bianca, fica’. Ela sempre teve esse feeling. Ela é detentora de todo o meu lado emocional. Na hora do ‘vamos ver’, eu consigo segurar e lembrar das coisas que ela fala.

E qual foi o conselho dela especificamente para a Copa do Mundo?

Colocar nas mãos de Deus, entregar, ser feliz. Que um dia eu sonhei com tudo isso e, se estou aqui, é porque Deus me colocou.

Falando agora da sua trajetória no futsal: como foi sua jornada até chegar à Europa?

Iniciei em Londrina, numa equipe feminina, e depois passei por times mais amadores. A técnica de Londrina me viu jogar, me chamou para um teste nos Jogos da Juventude e fiquei treinando ali, jogando com meninas da minha idade no sub-15. Foram 7 a 8 anos em Londrina, com títulos de liga e Taça Brasil, experiência que me deu respaldo para ser a atleta que sou. Depois fiz uma temporada em São Paulo, onde ganhei maturidade longe da família. Voltei ao Paraná para Cianorte, um projeto novo, onde fiquei 3 ou 4 anos. lá. A parte religiosa entra aqui: um pastor orou por mim e disse que eu não ficaria no Brasil, que eu iria pra fora. Eu era nova e não entendia muito. Quando eu estava em Cianorte, uma agência me procurou. Tenho nome italiano, eles disseram que podiam buscar minha descendência para eu jogar fora. Na hora lembrei da palavra do pastor. Demorou três anos, mas em 2017 minha cidadania italiana saiu. Recebi proposta de um clube e fui pra Itália.

E porque você voltou para o Brasil?

Joguei três temporadas em clubes menores, que iam aos playoffs, mas sem brigar por títulos, e isso começou a me pesar. Eu queria vencer. Minha mãe sempre dizia: ‘Calma, Bianca. Se for pra acontecer, vai acontecer’. Depois, comecei a não me sentir bem psicologicamente por não conquistar títulos. Recebi uma proposta para voltar ao Brasil, para o Stein, e foi uma das melhores decisões que tomei. O projeto me motivou e vivi ótimos anos em 2021 e 2022. Em 2022, veio novamente uma proposta da Itália, agora de um time com chance real de título. Coloquei em oração, meu coração ficou tranquilo e fui. Conquistamos o Campeonato Italiano, a Copa da Itália, a Supercopa, fomos vice da Champions e eu ganhei dois prêmios de Melhor do Mundo, um dos melhores momentos da minha carreira. Depois, com problemas de saúde da minha mãe e questões pessoais, decidi voltar ao Stein, onde sabia que teria estrutura e alta competitividade. Estou lá até hoje, feliz com minhas escolhas. “Deus guiando e minha mãe também.

Fabio Souza
Bianca em comemoração do gol do Brasil durante a Copa do Mundo nas Filipinas. | Foto: Fabio Souza

Como foi o dia da convocação para a Copa do Mundo até instante em que você ouviu o seu nome?

Eu estava muito confiante porque vinha num ciclo de convocações, mas 100% nunca dá pra estar. É um grupo muito seleto, só 14 vagas, e muitas meninas de fora com potencial enorme. Eu dizia: só estou convocada quando o Sabóia falar meu nome. E ele falou meu nome primeiro. Eu levei um susto. Estávamos com o Stein, prestes a jogar o Paranaense. Desci com o grupo para o hall do hotel pra assistir. Avisei minha família, mandei mensagem no grupo. Quando meu nome saiu, eu explodi de alegria. No íntimo, sozinha, chorei muito. Foi indescritível. Depois vieram os áudios da família, minha mãe… muito especial.

O que foi mais emocionante: a primeira convocação da sua vida ou a convocação para o mundial?

Difícil. A primeira foi em Goiânia, há dez anos, em 2015, na primeira convocação do Sabóia (treinador da Seleção). Estávamos num auditório com todos os times porque estava tendo um campeonato brasileiro. Eu não tinha convicção nenhuma de que seria chamada. Quando ele falou meu nome como terceira goleira, eu quase tive um “troço”. As meninas me abraçando, eu chorando, sem acreditar. A do Mundial foi especial demais também. Mas a primeira… tem um gostinho a mais. Foi o primeiro passo, o primeiro sonho realizado.

A Seleção tem um poder de eternizar momentos. Quais são aqueles instantes, sejam simples ou gigantes, que se tornaram suas melhores memórias com a Seleção Brasileira?

A primeira foi o torneio na Guatemala. Estar com as meninas que eu via jogar e admirava. Depois, a Copa América de 2019, no Paraguai, foi especial. E agora essa, o Mundial. Essas três são as mais especiais. Mas todas têm um lugar no meu coração.

Analisando a Copa do Mundo: o desempenho das seleções e o que vocês têm vivido em quadra está dentro do esperado?

Eu acredito que sim. Acho que quando saiu a tabela e a gente ficou sabendo de tudo, de como ia se desenhar e de como ficaria a tela quando as seleções avançassem, esta sendo o que a gente esperava. Estamos vivendo aquela que buscamos passo a passo. Vivemos essa Copa do Mundo como ela deve ser, vivendo o hoje…o presente. De tudo que projetamos chegamos onde nós queríamos, que foi a final.

O que essa Seleção tem de especial que vai fazer a diferença para a decisão contra Portugal?

Leveza e alegria, além da qualidade técnica e cognitiva que é absurda. Acho que isso tem feito a grande diferença. Sabemos nossa responsabilidade, mas a gente deixa isso leve, com união e alegria para que a gente faça tudo da melhor maneira possível sem peso.

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