Por Roger Heit
A formação de um atleta é uma jornada e como toda jornada importante, ela precisa de direção, constância e boas companhias. Ao longo da minha experiência no futebol, aprendi que, na base, todos querem chegar, mas poucos realmente sabem como. O que separa os que sonham dos que realizam não é apenas o talento, mas a qualidade das decisões tomadas ao longo do caminho.
Digo com tranquilidade: nenhum atleta chega ao profissional sozinho. Ele precisa de técnicos, orientadores, clubes — mas, sobretudo, da sua família. Os pais não são apenas acompanhantes de treinos e jogos; são, na prática, os primeiros líderes da carreira de um atleta. Isso exige uma postura firme, uma estratégia bem pensada e, principalmente, uma visão de longo prazo. É preciso postura para enfrentar os altos e baixos, estratégia para tomar decisões certeiras nos momentos mais delicados, e visão de futuro para entender que uma carreira não se constrói da noite para o dia — ela é feita por etapas.
Infelizmente, muitos pais ainda agem por impulso. Mudam os filhos de clube constantemente, colocam uma pressão excessiva ou, em casos mais graves, simplesmente desistem no momento em que o filho mais precisa de apoio. Entendo que o caminho do futebol é duro e, muitas vezes, cruel, mas acredito que os atletas que chegam lá são justamente os que foram bem acompanhados, tanto dentro quanto fora de campo.
Por isso, defendo que, mais do que buscar o melhor time ou o agente mais famoso, pais e atletas devem procurar um projeto de carreira. Um trabalho sério, profissional, que compreenda as fases do desenvolvimento do jovem atleta, os momentos certos para exposição, os riscos e as oportunidades que o mercado oferece. No futebol de base, é preciso entender que a formação vem antes da vitrine. E quando a base é bem feita, a vitrine aparece no tempo certo.
A preparação precisa ser completa: corpo, mente, hábitos e entorno. É necessário preparar o atleta para lidar com a pressão, as frustrações e a concorrência. Mas também é fundamental preparar a estrutura familiar. É importante entender os custos envolvidos, o tempo exigido, o impacto emocional e o nível de envolvimento que será necessário por parte da família ao longo de todo o processo.
Se tudo der certo, os pais estarão ao lado dos filhos em cada vitória. Se tudo der errado, estarão juntos também para recomeçar. E é justamente isso que transforma um sonho em carreira: a caminhada compartilhada, uma base sólida e a construção paciente e consciente de cada etapa.