O Magnus se tornou um dos maiores cases de sucesso do esporte brasileiro na última década. Muito além dos títulos e da excelência técnica dentro de quadra, o clube virou uma referência em gestão esportiva, construção de marca e conexão com o público. O Invite desta semana recebeu dois pilares fundamentais desta história: Rodrigo Capita, ídolo do Magnus e um dos maiores nomes da história da modalidade, e Fellipe Drommond, presidente da equipe.
Durante a conversa, Rodrigo mostrou como enxerga com clareza o tamanho do esporte e a paixão que ele desperta no país. Por outro lado, ele refletiu sobre as barreiras que ainda o impedem de alcançar seu devido lugar.
“O futsal me deu a possibilidade de conhecer o Brasil todo, conheço todos os estados do país e vários lugares do mundo graças ao esporte. Conheci a Ilha do Marajó, local onde você precisa chegar em Belém e depois enfrentar 12 horas de barco. Chegando lá, em Breves, cidade de 110 mil habitantes, foi impressionante ver a população se mobilizando para ver o Magnus. Aí você passa a entender o tamanho do time e do esporte, e nos faz perguntar: nosso esporte é tão maravilhoso, tão consumido, o que será que está faltando pra ele estourar de vez?”, disse Rodrigo.
A resposta, em parte, está na falta de sustentabilidade de algumas competições e na dificuldade que os clubes têm para operar financeiramente, especialmente fora dos grandes centros.
“Essa Copa do Brasil é um dos campeonatos mais legais já disputados, só que a premiação não fecha. Para nós que somos um time que conta com patrocinadores e investimento não fecha, imagina para o Breves, que vive em outra realidade. No caso do nosso time, desde o começo, sabemos vender o esporte, a marca que está nos apoiando”, completou Capita.
O Magnus , de fato, aprendeu a se posicionar como algo muito além de um clube esportivo e isso impactou diretamente em se tornar autossustentável. A equipe é tratada como uma plataforma de negócios desde sua fundação, em 2014, com patrocínio da Adimax, empresa da cidade de Sorocaba e dona da marca de rações Magnus, chegando dois anos depois.
“Nessa jornada, encontramos a Adimax buscando empresas baseadas em Sorocaba para envolvermos a comunidade. Dessa forma, deixamos de ser uma plataforma de comunicação para se tornar um player de negócios. O time passa a ter o brasão do mascote da companhia e na primeira temporada, o uniforme da equipe foi inspirado na embalagem da ração da Magnus”, detalhou Drommond.
“Fui aprendendo muito com o Felipe, com o Falcão e o Magnus se tornou uma potência em 10, 11 anos. Um time que joga 70 jogos não tem 10 derrotas no ano, é surreal. Então você vai amadurecendo, vai entendendo que você também é uma marca e as coisas vão acontecendo”, acrescentou Rodrigo.
O atual momento do futsal
Fora das quatro linhas, o futsal brasileiro vive uma situação complexa, dividida entre diferentes entidades e com pouca clareza institucional. Drommond faz uma leitura de como a modalidade acabou se dividindo.
“Hoje, todos os eventos de seleções brasileiras estão dentro da CBF, já a CBFS é uma entidade responsável pelas competições e inscrições e no meio do caminho. Além disso, você tem a Liga Nacional de Futsal, que é uma organização ao estilo NBA sendo chancelada pela CBFS”, comentou.
“Já em 2023, após o rompimento entre a CBFS e a Liga Nacional de Futsal, a entidade cria o Campeonato Brasileiro, com o objetivo de oportunizar outras equipes, principalmente do Norte e Nordeste, e obviamente concorrer com a liga. Aí você tem o esporte dividido”, acrescentou.
Essa fragmentação institucional, resultado de disputas entre federações, ausência de uma governança centralizada e interesses divergentes, acabou criando um ambiente instável para o desenvolvimento estratégico do futsal no Brasil. A coexistência de múltiplas entidades cria conflitos de agenda, dificulta o alinhamento comercial e compromete o crescimento coordenado da modalidade.
“É claro que o caminho é a unidade, e acredito que estamos progredindo para haver um acordo e a liga deve fazer parte desse ecossistema, já que ela é disparada a maior competição do país, faturando R$ 10 milhões por ano, não tem dívida. Sem dúvida a liga é o principal ativo no nosso esporte, tem que ser um orgulho nacional. Ela tem o potencial de ser a maior competição do planeta, porque eu não acredito que tenha alguém capaz de praticar o futsal melhor que o brasileiro”, cravou Fellipe.
As novas gerações
Ao fim da conversa, fica evidente que o que sustenta o Magnus Futsal é a consciência de que o futsal, mais do que um esporte, é uma plataforma viva de relacionamento com as marcas e o público, especialmente com as novas gerações.
Para Rodrigo, essa conexão direta com os torcedores é o que realmente diferencia a modalidade e deve ser preservada como ativo estratégico.
“O resultado é a cereja final do bolo. Temos que pensar como a gente vai trazer o público para assistir as partidas. Geralmente, após o jogo, buscamos ser atenciosos com mundo. Tem uma cultura no futsal da proximidade com o público, coisa que em um campo de futebol você não tem esse acesso. Então temos que deixar a criança fazer parte do espetáculo, tocar bola com o Rodrigo depois do jogo. A gente tem esse diferencial de estar próximo do consumidor”, finalizou.